terça-feira, 19 de abril de 2011

Cadê a evolução Bombril?


Quando assisti pela primeira vez um dos filmes da campanha 2011 da Bombril, eu ri. Não sei por que, mas ri. Talvez pelo elemento surpresa em não ver o Carlinhos Moreno como endossante da propaganda, ou talvez por ter sido a Marisa Orth... inevitavelmente lembrei da Magda ("Cala a boa Magda!!!") Lembram disso??? ok ok ok... passei dos 30 há algum tempo...

Mas é claro que fui para o site www.mulheresevoluidas.com.br pra entender melhor. E aí, logo no vídeo de introdução, o Carlinhos Moreno fala da evolução das mulheres, que elas chegaram ao poder e que Bombril acompanhou essa evolução (!!!).

Navegando pelo site, alguns 'aplicativos': o ControlMan, com botões para o homem lavar a louça, beijar a sogra, assistir a um filme romântico, discutir a relação, entre outras atividades que o homem estereotipado odeia fazer. Você também pode colocar a sua foto e de seu namorado/marido nos vídeos 'Como o seu homem deve ser', ele na posição de cachorro e você como a 'adestradora' do mesmo. E ainda, enviar o vídeo para suas amigas. Até agora, não recebi esse vídeo de ninguém (ainda bem!).

Agora vamos aos filmes:

Adestramento

Dona Marisa

O Homem das Cavernas


Inveja


Tropa de Elite


Vizinho


Educarpet for Man

Em uma entrevista à IstoÉ Dinheiro em Abril de 2009, Gustavo Ramos, presidente da Bombril, afirma que o foco da marca a partir de então são as mulheres com menos de 30 anos, que só enxergam o Bombril como sinônimo de limpeza de louças e panelas. "Poucas pessoas sabem que Bombril é utilizado para limpar pára-brisa de caminhão", conta o executivo. Super útil essa informação, não?

Eu sempre digo que não precisamos 'gostar' de nada, pois não é uma questão de gosto pessoal, é uma questão de adequação ao target. E é com esses olhos que começo minha análise dessa campanha que custou 40 milhões de reais. Então, considero como target dessa campanha para análise, mulheres jovens na faixa etária dos 30 anos ou menos...

1. A mulher dessa faixa etária se identifica de alguma forma com as mulheres da campanha? Não estou falando apenas do aspecto visual e de linguagem, que se aproximam muito do próprio homem, tão criticado na campanha. Mas também, se essa MULHER vê o HOMEM dessa maneira, como um cachorro, um ser secundário? E, o HOMEM jovem, que se relaciona com essa mulher, é assim???? Sinceramente, acredito que não.

2. Uma vez isso sendo realidade, a mulher precisa passar por isso e aguentar esse traste dentro de casa? Claro que não! Não faz sentido. Vivemos em outra época. Uma coisa é valorizar a mulher, outra coisa é destruir o homem. A mulher evoluída precisa adestrar os homens???

3. Ainda se estivermos falando de consumidoras de classes sociais menos favorecidas (e talvez mais conservadoras), será que houve identificação? Ela se acha superior ao homem? Ela QUER ser SUPERIOR ao homem? Ou quer DIVIDIR os afazeres domésticos?

4. "Homem é bom, mas é tosco." "Limpa esse chão que nem homem". "Falar a língua que o homem entende", pressupondo a burrice, claro! "Aqui em casa o comando é meu, e o controle remoto também". "Jornalada na fuça". Mal gosto, por assim dizer. Nem cachorro se trata assim, um tanto agressivo demais.

5. Esse homem retratado na campanha é um ser desnecessário, afinal Bombril faz tudo muito melhor que ele. Então, pra que perder tempo falando dele? E, se Bom Bril tem 1001 utilidades e é tão superior ao homem, que a mulher dê conta de tudo e páre de reclamar. Ok, fui machista agora...

Entendo que o público é formado por mulheres, mas pra que criar essa rejeição toda do público masculino? E já que o homem não é mesmo o público-alvo da marca, por que a mesma patrocinava time de futebol???

Por enquanto tenho mais questionamentos do que respostas para essa campanha. O que me parece é que é quase um pedido de socorro num cenário de mercado decrescente (vide abaixo). Uma estratégia polêmica, que está dando muito o que falar, mas também arriscada e perigosa. O índice de rejeição da campanha é altíssimo! Mais uma vez reforço que não sou contra nem a favor da campanha. Apenas concordo com o Nizan Guanaes quando ele diz que quem entende de propaganda é a dona de casa, é a audiência, é quem compra o produto. E parece que esse pequeno detalhe, o consumidor, não tem gostado muito.


Uma coisa é fato: o produto lã de aço está sendo substituído pelas esponjas sintéticas. A mulher evoluída não põe mais as suas mãos em lãs de aço.


E, cá entre nós, não há campanha publicitária que segure a mudança de hábito do consumidor.


E aí Bombril, cadê a evolução?





4 comentários:

@ju_harada disse...

Wow!
Ótimo artigo Vivi!
A Badouy comentou esses comerciais em uma das aulas e as opiniões, em geral, foram super negativas.
Eu, por exemplo, achei uma propaganda super ofensiva e os argumentos (do 4° tópico) enfatizados são realmente desnecessários.
É Bom Bril, não foi dessa vez HUEUE

June Strob disse...

No momento que vi o lançamento da campanha e a idéia de criar vídeo, dei muita risada (talvez porque a idéia do vídeo personalizado, me lembrasse o "ex-viado" dos Deznecessários). De qualquer forma,gostei muito da escolha das mulheres para a campanha.

Da mesma forma que existe muito blog machista por aí que cai no humor até da mulherada, quando a situação se inverte, se torna agressivo. Agressivo porque é uma mulher falando e não um homem.

Para cada argumento que eu vi negativo da campanha gerava um "se". "se fosse assim...", talvez contornasse a situação e fugisse dos paradigmas.

O fato é que opções não faltariam para atingir o público desejado, de uma forma divertida, humorística e não ofensiva.

Na hora que vi a Dani Calabresa, pensei: poxa, poderiam fazer algo tão legal com o casal(ela e Marcelo Adnet) para promover os produtos. Fugindo desse "mulher dominadora", mas algo sutil e divertido que envolvessem situações diárias e não caissem na mesmisse de vídeos tutoriais que a gente têm se tornado comuns.

Enfim, esse tipo de discussão dá pano pra manga...

Gerou muita rejeição desnecessária ( vi isso nos comentários do próprio blog da agência quando citamos a campanha) e o pior, tirou totalmente o foco dos produtos Bombril.

Eu mesma não vejo mais os produtos, vejo a polêmica.

Eric Deuber disse...

Muito bom o seu post Vivi!

Lúcia De Nardi disse...

Ei Vivi! Tudo bem?
Vendo seu post sobre a Bombril, me lembrei de certo fato. Em maio de 2011 quando vi a propaganda, fiquei tão revoltada que resolvi mandar um e-mail para eles (NUNCA havia feito isso antes, para nenhuma empresa), mas a propaganda foi de tamanho mau gosto que tinha que "gritar" como consumidora. Então, enviei o e-mail que segue abaixo. No dia posterior recebi uma resposta da empresa. O que mais me espantou foi que uma amiga também havia escrito reclamação para eles (até mais pesada que a minha) e recebeu a mesma resposta. E advinha o que nós fizemos? Exatamente aquilo que comentamos em sala de aula hoje. Colocamos nossa indignação no Facebook. Galera caiu de matar! Dá só uma olhadinha na resposta deles! Acho que a empresa não vai conseguir se livrar da tal propaganda, tão cedo! O que acha?

“Gostaria de registrar aqui a minha indignação por todas as vezes que a propaganda da Bombril vai ao ar! Sinceramente gostaria de saber quem foi o criativo publicitário que inventou tal desaforo. Certamente... Não domina os anseios de uma mulher ou os ignora! Colocar mulheres humoristas "pagando" de homens, vestidas de terno e gravata e dizendo que as mulheres evoluíram como os produtos... PELO AMOR DE DEUS QUEM FOI O ACÉFALO QUE APROVOU tal campanha? Consumidora dos produtos por sinal; sou mulher, jornalista, dona de casa, estudante e muito bem sucedida em todas as funções. Sinto-me ofendida com o comercial. Fiz tudo na vida sem me masculinizar ou desprezar os homens pelo simples fato deles serem homens. Sim! Fiz de saia, maquiada, com penteado, ou ainda de cara limpa, jeans e tênis, mas sem me achar melhor que um ou outro pelo sexo. Então a evolução das mulheres significa a regressão dos homens? Ou ainda, cuidar da casa é algo ruim ou pejorativo e que os homens não podem fazer parte? Cresci vendo os comerciais da Bombril, até simpatizava com o
coleguinha careca (marca forte); Ele por si só se bastava e sustentava o comercial. Agora são as substitutas fanfarronas que gritam e esperneiam para conquistar espaço, aff! Comercial também educa, sabiam? Vocês querem que nossas crianças vejam que mulher manda no marido, ou marido manda na mulher! Que mulher é melhor que homem ou homem melhor que mulher. Ah pára! Por favor, podem me explicar melhor sobre essa evolução toda? É evolução ou guerra? Quanta ofensa em apenas 30 segundos.”

Resposta da Bombril:
“Lucia,

Agradecemos a franqueza com que nos expôs sua opinião a respeito de nossa campanha publicitária.
A Bombril tem uma ligação muito especial com as mulheres brasileiras, que são as
principais usuárias e que tanto contribuíram para a evolução de nossos produtos e
de nossa empresa. A intenção da Bombril foi a de prestar uma homenagem à essas
mulheres, com uma campanha diferente e protagonizada por elas, com irreverência e humor, que são historicamente características de nossas campanhas.
Ressaltamos, porém, que não houve intenção de sermos ofensivos. De qualquer forma, mais uma vez agradecemos por ter-nos mandado sua opinião, o que nos permite aprimorar cada vez mais nossa comunicação com nossos consumidores.

Atenciosamente,

SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR BOMBRIL”